A fragilidade das políticas específicas para mulheres indígenas, negras e quilombolas preocupou a CPI mista que investiga a violência contra a mulher, na passagem por Mato Grosso do Sul. O grupo, que ontem realizou audiência pública na Assembleia Legislativa do estado, recebeu denúncias de violência doméstica e familiar nas aldeias indígenas, de descaso no atendimento e de recusa dos órgãos públicos em atender as vítimas.
Outro
problema identificado foi a falta de pessoal nas unidades de saúde e nos órgãos
ligados à segurança pública para um atendimento direcionado, como intérpretes
para ajudar nos boletins de ocorrência.
Lideranças
caiuás-guaranis e terenas reclamaram da omissão das autoridades locais e do
governo do estado, denúncias reforçadas em reunião da CPI com o movimento de
mulheres de Mato Grosso do Sul.
Elas
contaram que os policiais “debocham” dos relatos. Lembraram ainda dificuldades
em assentamentos e nas fronteiras do estado, onde índias são espancadas pelos
maridos índios e por não índios.
—
Quando uma criança e uma mulher são espancadas, o conselho tutelar e as
delegacias não querem atender.
Eles
dizem que não é competência do estado, mas da União cuidar da segurança —
relatou Marlene Almeida, índia caiuá, da aldeia Sucuri´y, em Maracaju.
Ao
responder a denúncias semelhantes, de que os órgãos estaduais de segurança se
recusam a entrar nas aldeias, o secretário estadual da área, Wantuir Jacini,
disse que isso acontece quando se trata de prevenir a violência.
— Não
temos competência para agir nesses casos — afirmou.
Jacini
contou que mais de 400 perícias foram feitas em aldeias indígenas. Entre elas,
uma recente, sobre um estupro atribuído a um não índio, na região de Iguatemi.
Além
de promover a audiência pública, a CPI fez diligências na Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher, no Centro de Referência no Atendimento à
Mulher, no Poder Judiciário e na Promotoria Pública de Campo Grande. Também
visitou o governador André Puccinelli, a subsecretária de estado da Mulher, Tai
Loschi, e a aldeia urbana indígena Água Bonita, na capital.
No
estado, foi constatada a inexistência de um organismo forte e independente,
como uma secretaria estadual da mulher, e número insuficiente de delegacias
especializadas em Campo
Grande e no interior para atender as vítimas.
Justiça
Outro
problema debatido na audiência foi o excesso de processos tramitando na Vara de
Violência Doméstica e Familiar.
— Isso
certamente levará à prescrição de muitos deles, o que é a total negação do
acesso das mulheres à Justiça — afirmou a relatora da CPI, senadora Ana Rita
(PT-ES).
No
entanto, o presidente do Tribunal de Justiça do estado, Hildebrando Coelho
Neto, confirmou a instalação, no dia 23, da 2ª Vara de Violência Doméstica,
decisão elogiada por Ana Rita. Hoje, tramitam pela vara especializada mais de 7
mil processos, número bem acima das varas criminais e de família, que, em
geral, não têm mais de 1.500 processos.
A CPI
decidiu, ainda, convocar para depor, em Brasília, a secretária estadual de
Saúde, Beatriz Figueiredo Dobashi, que não compareceu ao debate.
O
próximo estado a ser visitado pelo grupo é o Amazonas. A comissão estará em
Manaus nos dias 22 e 23 deste mês.
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